quarta-feira, 21 de julho de 2010

Argentina, casamento gay e o " jeitinho brasileiro "

 

       Duas semanas se passaram desde o fim da copa do mundo e a Argentina, nossa famosa rival nos campos, tem o código civil reformado pelo senado, prevendo o reconhecimento de casais gays no país. No mesmo dia, ao ler os comentários do site do G1, seguia o comentário: "Bah, coisa de argentino escroto mesmo. Quero ver essas bibas andando de mãos dadas aqui no Brasil haha!! nunca.".

     Primeiro de tudo: Eu realmente devo ter ficado MUITO abismado com a colossal falta de senso da pessoa que escreveu isso, a ponto de ocupar espaço na minha cabeça pra lembrar coisas como essas. O que deve ser, então, "coisa de brasileiro" Pra quem escreveu aquilo no G1?! Falam como se os argentinos fossem muito piores que os brasileiros, como se superioridade no futebol significasse alguma merda. ¬¬'

O que me incomoda não é o fato de o Brasil não ter aderido ao casamento gay antes da Argentina. Essa não é mais uma questão de SE vai acontecer, mas sim de QUANDO. O que realmente me deixa abismado são as contradições colossais que existem dentro do senado brasileiro. Por exemplo... A constituição brasileira se diz LAICA, a política brasileira se diz LAICA, e a existência de partidos como o PC (Partido Cristão) é legal? Prazer, meu nome é contradição.

   Okay, deixei isso pra lá. Chegou quinta feira, e eu tinha combinado de levar duas amigas minhas em uma boate gay daqui de BH, que eu sempre fui, chamada Mary In Hell. Chegamos logo que a boate abriu, e os primeiros 45 minutos a casa era liberada apenas pra elas. Logo no instante que eu entrei na boate, elas vieram corredo desesperadas na minha direção, falando que tinham perdido as comandas.


  Achei meio improvável os documentos terem caído daquela bag ENORME que uma delas tinha levado. Podiam colocar um corpo esquartejado lá dentro que ainda ia ter espaço pras tais comandas. Falamos com o gerente e com o pessoal dos bares, e ficamos esperando alguém fazer algum pedido com o nome das minhas amigas.

  Nessa hora, eu me lembrei desse comentário do cara do G1, e pensei comigo mesmo "LÓGICO que alguém vai usar as comandas, é totalmente a cara do brasileiro, de querer sair com vantagem em absolutamente TODAS as situações. ".  Foi quase como se eu tivesse escrito a cena toda na minha mente, já que no segundo seguinte eu ouvi o gerente da casa pedindo pra chamarem a moça que pediu OITO ENERGÉTICOS de uma vez só, com a comanda de uma Bárbara (nome da minha amiga.) pra se explicar no caixa.

  Então é sobre isso que aquele cara estava falando. Ser mais esperto que o outro, querer ter vantagem, SEMPRE, é sinal de superioridade dele, enquanto brasileiro. Ser mais esperto, achando que matar uma mulher, desossar e entregar os ossos aos cachorros seria sinônimo de impunidade. Ser mais esperto, achando que "Os senhores viram essa menina lá embaixo? é a bárbara, minha amiga" É curtir a noite. Jogar a filha pela janela, e fingir que o apartamento foi assaltado, arrastar uma criança por 7km pelas ruas de uma cidade, e por aí vai. Não é preciso ressaltar que o Brasil detém o recorde mundial de dinheiro desviado pela corrupção, atingindo a casa dos trilhões de Dólares. Pagamos o maior imposto por pessoa física NO MUNDO, entre outras coisas. E o quê, eu subjulgo um país que nem a Argentina porque o meu futebol é melhor ?! ( se bem que hoje em dia nem isso, né. )

Morro de dó.
                                                                                                         

quarta-feira, 14 de julho de 2010

De repente, Califórnia. (Shelter) - 2007






            

[Off: Legal eu ter visto Shelter - De repente Califórnia pouco tempo antes de estrear o meu blog, uma vez que o filme aborda uma das temáticas que, por várias vezes, aparecerá por aqui : A Homossexualidade. Unindo o útil ao agradável, farei uma crítica à produção de Jonah Markowitz; críticas essas que também vão aparecer várias vezes, sobre filmes que eu julgar interessantes, quer pela sua qualidade e originalidade, quer pelo seu total e imortalizado fracasso. ]





A história é moldada em uma pequena cidade litorânea no leste do estado da Califórnia. Zach (Trevor Wright) é um jovem desenhista órfão de mãe, que mora em uma modesta casa com o seu inútil pai, sua folgada irmã Jeanne (Tina Holmes), - que sempre que pode se desfaz da responsabilidade de cuidar do filho e o joga pra Zach, dificultando que o rapaz siga com o seu sonho, de estudar em uma renomada escola de arte, em L.A - e com o pequeno Cody (Jackson Wurth), seu sobrinho. A trama começa quando o seu melhor amigo Gabe viaja da pequena cidade pra estudar fora e, sua casa inicialmente inabitada, recebe um outro hóspede: O escritor e irmão mais velho de Gabe, Shaun (Brad Owen). O que outrora era uma simples amizade de 2 pessoas se torna uma relação mais íntima, quando estes começam a surfar juntos. Zach vê na companhia do seu antigo amigo um conforto pra situação deficiente na qual a sua família se encontra.


A premissa do filme não é tão nova aos olhos dos espectadores: Uma pessoa conhece outra, se apaixonam, algo no meio do filme os afasta e no fim, tudo fica bem. Okay, já vimos isso no cinema umas 2945039850435 vezes. O que fez o Diretor e roteirista Jonah Markowitz achar que o filme não seria apenas mais uma caixa retangular na locadora, dentre tantos outros semelhantes? O fato de a história se desenrolar entre 2 homens? Por favor, é um relacionamento entre duas pessoas como qualquer outro; querer ganhar espectadores se aproveitando do assunto 'homossexualidade' estar na moda é um preconceito tanto na mente dele quanto da pessoa que acha que o filme tem o seu diferencial nesse ponto.


Igualmente clichê e desmotivadora é a atuação de Brad Owen como Shaun. O que era pra ser um personagem forte e seguro de si se tornou apenas um rosto bonito e plástico na tela, como podemos perceber nas cenas ditas de "clima", como a ele separa a briga de Zach com um outro personagem. A impressão que dá é que se ele estivesse atuando com uma máscara de si mesmo, daquelas de papel impresso no rosto, o resultado seria o mesmo, tal a sua incapacidade de dar vida - quase séria - a um personagem que, de forte e seguro, passa a ser um monte de músculos, apenas.


Mas nem só de pontos negativos é feito o filme. A ótima atuação do pequeno Jackson, como Cody, dá uma emoção a mais a todas as cenas que ele aparece em quadro com Trevor e Brad, nas quais ele exercita, com perfeição, as nuances de voz típicas da idade, ao demonstrar dúvida ou incerteza. Ele é o ponto 'de cristal' do filme, que nem nós, espectadores, nem os personagens Zach e Shaun querem ferir. Ponto positivo.


Outro assunto interessante, e belissimamente abordado pelo diretor são as situação-problema de Cody quanto à sua família; Uma mãe que coloca o filho sempre em segundo plano, e que joga em cima do irmão a responsabilidade de cuidar do filho sempre que uma nova "saída" com algum homem passageiro dela aparece não é bem lá um bom conceito de família. Em pouco tempo, há a cena de Cody, Zach e Shaun jantando na casa de Shaun, pra felicidade do garoto, que adora Shaun. Provavelmente sem querer, o filme levanta a polêmica da adoção de filhos por casais gays: Ora, uma mãe irresponsável que apenas superficialmente liga pro filho é uma "família" melhor do que aqueles dois homens que dão carinho, amor e atenção à criança, sempre que é necessário?
"Você é meu papai, tio Zach." " Não Cody, eu sou o seu tio, seu pai é o Robert. " " Não não, você é o meu pai." e " Vai Zach, criança é pra se mimar" (Shaun) são exemplos claros que pesam a balança pro lado do casal gay, que definitivamente trata o menino com mais segurança e dignidade do que sua mãe solteira.


Apesar de evidente, a desestruturação da família é muito mal trabalhada. O pai, que supostamente é obeso e mora na mesma casa que Zach, Cody e Jeanne, aparece em apenas UMA cena, sendo que pelo menos 30% das cenas são filmadas lá! Então, no meio do filme, o diretor Jonah achou que a presença do pai era desnecessária e simplesmente ignorou sua existência? Agradecimentos devem ser feitos à grande atuação da atriz Tina Holmes, que vive a irmã de Zach e mãe de Cody, que salva esse núcleo importantissimo do filme da plasticidade e mesmisse.


Desnecessário foi, também, a evidente dica dada ao ator Trevor pra que este ficasse indiferente ou 'rolasse os olhos' quando alguém perguntava ao personagem sobre seu relacionamento com sua melhor amiga. Ora, um dos dramas do filme era o personagem se descobrir gay? Aonde isso? Na primeira cena, quando ele rola os olhos quando sua irmã fala que vai chamar amigas pra casa, dando um cotovelada amigável no irmão, simplesmente escreve na testa dele "SOU GAY". O que que era pra ser um ponto dramático no filme, como o relacionamento de Zach e da sua antiga namorada se torna uma pedra no sapato do espectador, que já sabe que o personagem principal é gay. Aliás, todos no filme parecem saber, menos ele próprio.


No resumo da ópera,
Shelter - De repente Califórnia se faz interessante por abordar temas como a adoção de filhos de pais gays, e por conseguir a façanha de não emburrar o espectador com um roteiro tão clichê e batido quanto andar pra frente. Consegue, também, fazer uma abordagem coesa (até certo ponto) e livre de estereótipos, como deve ser. Mas peca por achar que, só pela história se desenrolar entre 2 homens, o filme mereça mais atenção e valor do que se fosse vivido por um casal heterossexual.


5/10.