segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aniversário.

Como filho... como filho é meu papel amar e respeitar meus pais incondicionalmente. Como comunicólogo, eu lido com o tratamento da informação, sua manipulação e a sua disseminação nos mais diversos meios de comunicação. No meio disso, é meu papel tornar público e denunciar qualquer distorção de fatos e manipulação errônea do que chega na sociedade, como é o caso do vídeo abaixo. O discurso foi proferido pela deputada Myriam Rios (PDT) dia 21/06 , condenando a PEC 23/2007 (Tipo um PL122/06, no Rio de Janeiro).


Antes de comentar qualquer coisa que a deputada diz, leiam a alteração proposta pela PEC 23/2007, partindo do pressuposto que ela passaria:

" Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (tais como idade, raça, cor, gênero ou identidade de gênero, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, orientação sexual, origem nacional ou social, riqueza, nascimento.), garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. "


Pergunto com toda sinceridade possível: Há, no trecho acima, alguma proposta extremamente absurda, indecente ou incoerente com aquilo que é dito na nossa constituição como "Todos são iguais perante à lei" ? Existe ali alguma afronta à qualquer grupo social? Alguma vantagem? Cidadãos acima da lei ou com privilégios?

No ataque à PEC 23/2007, a deputada resguarda para si o direito de "não querer um funcionário homossexual na minha empresa, se não for da minha vontade." (2:24). O Artigo 5º coloca que pessoas negras, por exemplo, não podem ser demitidas de uma empresa em função da sua cor. Pergunta: Isso é exagero de proteção? É um privilégio concedido aos negros, ou nada mais do que um direito adquirido?  Sendo assim, qual o motivo de falarem que os gays "se colocam em um patamar de superioridade perante à lei" ao quererem ser incluídos nesse parágrafo?

A deputada cria uma situação para exemplificar a fala acima: "Digamos que eu tenha 2 meninas em casa, e contrate uma babá, e essa babá se mostre Lésbica. É a opção dela, a orientação sexual é dela, ela escolheu... Ela é livre. Se a minha orientação sexual não for essa, for contrária e quiser demití-la, eu estaria enquadrada na PEC. [...] Eu vou ter que manter a babá na minha casa, e sabe Deus se ela vai cometer pedofilia com as minhas filhas". (2:39) ; (3:43)

A argumentação da deputada, que se estende até o fim do vídeo com outro exemplo parecido com o acima, se pauta no medo que ela sente em ter suas filhas molestadas pela babá Lésbica. Não tiro o direito dela, é lógico. Todo pai e mãe teme que seus filhos passem por esse tipo de coisa. Mas e se, no caso, fossem dois meninos e uma babá heterossexual? Ou, como no exemplo seguinte, um motorista - também hétero - e as mesmas duas meninas? A deputada parte do pressuposto que, já que a contratada é lésbica, ela vai ser pedófila e vai molestar suas filhas.  Dizer que isso não é preconceito é um absurdo, da mesma forma que também é preconceito dizer que um empregado negro não vai exercer suas funções direito porque ele é negro. A partir do momento em que a orientação sexual de uma pessoa não é incapacitante para a função que ele ou ela se dispõe a fazer e, mesmo assim ela é demitida, enquadra-se sim no mais profundo preconceito, tão defendido e resguardado pela deputada.

Em certo ponto, ela diz que: " sabe Deus se ela vai cometer pedofilia com a minha filha, e eu não vou poder fazer nada! Não vou poder demití-la pois vou estar enquadrada na PEC!" (3:40) "Quando eu descobrir que o meu motorista homossexual poderia estar tentando bulinar o meu filho, eu não poderia demití-lo, porque a PEC não deixa." (5:13). No universo descrito por ela, então, pedófilos héteros não existem. Perceberam como a manipulação foi feita? Pra poder ter o impacto de dizer que a PEC defende o molestador a deputada tira, da cabeça dela, que homossexualidade e pedofilia são a mesma coisa, fazendo a distorção pra convencer o resto dos presentes. Ora, ontem (27/06) todos pararam pra ver a repercussão que um site de pedofilia HÉTERO causou nas redes sociais afora (www.sexoinfantil.blogspot.com - já retirado do ar). É uma pedofilia menos nojenta, menos repulsiva? Ou contratar um motorista hétero E pedófilo pode, mas contratar um motorista gay - que na visão dela já é o mesmo que pedófilo - é inaceitável?  

"Representando o povo, eu quero representar e defender as crianças, os jovens inocentes. Que se essa PEC passa, e um rapaz que tem uma orientação sexual PEDÓFILO (Pasmem!),  e a orientação dele É TRANSAR com meninos de 3 a 4 anos nós não vamos poder fazer nada, porque ele está defendido pela lei." (7:05)

Fico extremamente desesperançoso em saber que gente que diz absurdos incoerentes como esse são os responsáveis por criar as leis que nos protegem. Igualam homossexuais - pagantes de impostos, trabalhadores, brasileiros e que merecem a felicidade e o respaldo legal - a criminosos mentalmente doentes. Não vou ficar aqui defendendo porque gays não são pedófilos, ou porque pedófilos merecem isso ou aquilo. Aliás, não vou defender nada. Estou profundamente magoado e ofendido pelas coisas que acabei de ouvir. Não se diz essas coisas a alguém que simplesmente quer ser feliz. Não se diz essas coisas a ninguém. Dia 21/06 foi meu aniversário de 20 anos, grande presente esse que eu ganhei.

5 comentários:

Um beijo pra quem é travesti: disse...

A sociedade que desinforma.

Unknown disse...

Art. 5º. O Art 5º que você comentou não é a PEC e sim o artigo 5º da constituição:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade

Unknown disse...

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Artigo II

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Claude disse...

Bela reflexão, Luiz.O pior de tudo é saber que pessoas com esse nível de discurso nos representa no Congresso.Pior ainda é saber que muitas pessoas concordam com tudo que ela falou....

@Luiz_gx disse...

O que eu escrevi é como seria o efeito da PEC já atuando na constituição, como se ela passasse, Daniel :P. Mas vou alterar no texto pra não haver nenhum mal entendido!