sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Comunicação, Big Brother Brasil e Luiza (que voltou do Canadá)


Quem apostava que o Big Brother Brasil, na sua longa caminhada de 11 edições pra cá, já teria saturado seu próprio conceito de enclausurar pessoas em uma casa, se enganou: Logo na primeira semana, Daniel e Monique protagonizaram uma das maiores polêmicas de todas as edições. O "estupro" - como dizem - parou o país em uma discussão cíclica, na qual as pessoas se dividiram simplesmente pra argumentar a existência ou não do delito sexual. Daniel saiu da casa para dar esclarecimentos legais sobre o occorido, e perdeu a sua vaga no programa.

Alguns dias depois, mais um "meme" de internet despencou nas redes sociais. "Luiza, que está no canadá" apareceu de uma propaganda imobiliária no nordeste, na qual um pai de família dá a informação do intercâmbio da filha sem que isso tivesse qualquer relação com a propaganda em si. Das redes sociais para a imprensa, o novo "meme" parou o país, sendo capaz até de afetar a especulação imobiliária na cidade na qual a propaganda foi veiculada, João Pessoa.



E o que esses dois assuntos têm em comum? Pararam o país.

Entretanto, o meu ponto não é o de constatar o óbvio de qualquer pessoa que acesse o facebook ou o twitter pelo menos uma vez ao dia. O que vem me assustando, de uns tempos pra cá, é a falta de senso crítico das pessoas em perceber (e admirar) o quanto uma comunicação bem feita e estudada pode afetar o país inteiro de uma vez. E o quanto, nas vezes em que essas comunicações aparecem, são apedrejadas e menosprezadas pelos próprios estudantes de comunicação.

E a que falta de senso crítico me refiro? Pessoas no facebook, que estudam comunicação e que simplesmente se colocam no lugar de espectador/julgador, e vivem soltando "BBB é um lixo cultural, não sei como tem gente que aguenta assistir isso". Sendo ruim como se diz, e sendo ao mesmo tempo o programa que mais gera lucro na rede Globo (e deixe-me lembrá-los, amigos: vocês precisam gerar lucro, ou vão morrer de fome.), o primeiro pensamento que me vem a cabeça, diferentemente de julgar, é: "putz, como que uma idéia tão simples consegue atingir esse pessoal todo?". Não é preciso dizer que, em QUALQUER campanha de QUALQUER marca de QUALQUER segmento comercial, o ideal é que se atinja o maior número de pessoas dentro do seu público-alvo quanto possível. E, um programa que é veiculado em um canal aberto tem como público em potencial todos os brasileiros. Façam as contas.

E BBB é "bom" ? Do ponto de vista econômico, sim. Em comparação com o já extinto "casa dos artistas", produzido pelo SBT, Boninho e o BBB dão uma aula sobre produção televisiva: Enquanto um já lucrou mais de UM BILHÃO de reais com a sua franquia, o outro mal conseguia se pagar, uma vez que a audiência e o merchandising não pagavam os custos de produção e veiculação. E do ponto de vista cultural, é bom? No meu ponto de vista (em uma das raras vezes em que eu me coloco como espectador) ... Sim. Não pra mim, que tenho acesso à informação e talvez não pra vocês que lêem esse texto, mas para aquele pai de família classe média baixa, que constantemente trai a esposa e acha que AIDS só se passa entre homossexuais, definitivamente sim. Ou para aquela mãe que ouvia a filha vomitar no banheiro depois das refeições e não sabia do que se tratava, também acredito que sim. Pra vocês, que têm papai e mamãe pra dar roupa de marca e que vocês eventualmente as usam pra esconder os rostos pra tomar a reitoria de alguma universidade? Definitivamente não.

Seguindo a linha da simplicidade, ficamos estupefatos com a genialidade da propaganda da Luiza. Logo no primeiro semestre da faculdade, aprendi a primeira coisa sobre a minha profissão: "Quando todos fazem Zig, faça Zag" (David Ogilvy). Em outras palavras, saia da mesmice. A fuga escolhida pela campanha é tão simples -e, ao mesmo tempo, tão genial- que pensamos "nossa, não acredito que fizeram isso, hahahaha!". Utilizaram a lição de Ogilvy com EXTREMA maestria, de modo que uma propaganda imobiliária (que visa atingir pessoas capazes de comprar um imovel, obviamente) caiu de forma viral e cômica em uma rede social que tem uma parcela considerável de adolescentes e young adults, que mal pagam as próprias saídas nos fins de semana. E essa avalanche que se criou com "Luiza no Canadá" é um prato cheio pra QUALQUER campanha e, se você tiver o mínimo de ganância comercial e inteligência mercantil, vai explorar isso até o fim! E, no meio de tanta genialidade, de tanta gente explorando uma campanha legal, original e caiu na boca do povo!!...

...me vem um "PAREM DE FALAR DA LUIZA, QUE ME***! " É de acabar com a empolgação de qualquer um.

Ou então me vem um vídeo desses: http://www.youtube.com/watch?v=t9O45Pfl3wc (Jornal do SBT Noite | Carlos Nascimento, o BBB e a Luiza) SBT: A emissora que foi incapaz (repetindo: incapaz) de produzir um reality show que peitasse o Big Brother Brasil e que ha anos trabalha a mesmice das propagandas da Tele-Sena. Ou a emissora que tem um trabalho porco no que diz respeito à cobertura internacional de reportagens, ou que tem um trabalho igualmente porco nas suas pautas jornalísticas? Não vou nem citar o Jornal Nacional aqui, a humilhação seria demais. Aliás, quantos de vocês param pra ver SBT? Duvido que sejam muitos. O vídeo carrega na hipocrisia de um jornalismo deficiente que, mesmo escancarando um problema evidente no brasil (A alienação da massa), não hesita em criar programas tolos e imbecis (esses sim, sem o menor pingo de cultura), dirigindo às classes mais baixas um verdadeiro circo de bestialidades e testes de DNA, que não ajudam em nada a tornar a população brasileira menos burra.

E é disso que o mundo é feito, meus caros. Infelizmente um dia vocês terão que trabalhar com conceitos que não aprovam. Infelizmente um dia vocês terão que trabalhar com pessoas intragáveis. Infelizmente um dia vocês terão que fazer uma propaganda trash. Infelizmente, um dia, deitarão com a cabeça no travesseiro segurando o choro, de terem feito algo que não queriam. E, caso excelam nisso, talvez cheguem a produzir um programa capaz de parar um nação.

O programa que vocês acabaram de criticar.

2 comentários:

Arnaldo Carvalho disse...

Gostei muito do texto, principalmente pela coragem de explicitar uma opinião diversa da maioria, afinal de contas não são poucos aqueles que são praticamente crucificados por “nadarem contra a maré”. Continue assim, pois o mercado esta precisando de pessoas como você!

CIHGRAL disse...

Perfeita a idéia do texto, bem como a indignação do autor. Na verdade, o que se deve entender - e não concordar - é que o ser humano, quando componente de uma massa, tem reações e atitudes diferentes. Povo é algo manipulável e fácil de ser induzido. Esta é a constatação, porém, jamais me permitirei concordar em assim me portar. Custe o que custar.