quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Kexi, Rony, Michael Lourenço, Thiago Rocha. Caroline e Lucas. Eu e você.


Estudante mata no Belvedere - O Tempo.

Grave acidente deixa mortos e feridos em Belo Horizonte - Estado de Minas.

Metade dos acidentes com morte registrados em BH recentemente teve envolvimento de jovens - Estado de Minas.

Ousadia e álcool empurram jovens para mortes no trânsito - O Tempo.



Qual é o problema de vocês?

Talvez eu devesse começar pela profunda falta de amor ao próximo que a minha geração experimenta. A geração dos loucos, que coloca a própria vida social acima do bem-estar e da segurança dos outros. Ou devesse dizer que a ignorância é alta demais, ao ponto de acharem que coisas de errado nunca vão acontecer com vocês (e sim, vocês foram superprotegidos a esse ponto). "Os outros bebem, dirigem e dá merda, comigo não!" "Os outros estudam e não passam no vestibular, eu passo!". Pode ser, também, que todos os aspectos da vida foram excepcionalmente fáceis a ponto de um carro (que não é barato) ser o presente esperado, fruto de uma conquista (paga) de estudar em uma universidade particular. Mas a verdade é uma só:

Eu não sei.

Não sei até que ponto vocês foram educados e ensinados a respeitarem aquilo que não é de vocês, aquela vida que não é de vocês. Até que ponto entendem que nada vem fácil, apesar de seus pais tentarem esconder ao máximo isso de vocês. Até que ponto entendem a dimensão que uma vida carrega, quantas pessoas ela atinge, quantas lágrimas rolam quando ela vai embora. ISSO eu sei. Querem saber por quê?

No dia 15 de Dezembro de 2010, o telefone daqui de casa tocou e uma voz noticiou a morte do meu padrinho, irmão da minha mãe. Estava olhando no olho dela quando a morte atingiu seus ouvidos, e vi o seu sofrimento. Fui eu, Luiz Felipe Mota, que tive que contar à minha vó da morte do seu próprio filho. Ana Cristina, mãe do Kexi... Você não sabe a vontade que tenho de te dar um abraço assim como o fiz com a minha avó. Não faço idéia do quê você sentiu, mas já olhei nos seus olhos e soube como foi sua reação, há 2 anos, por você e a minha vó serem a mesma pessoa na minha cabeça. No mesmo dia, o melhor amigo da minha mãe, tio Clermont Gosling, faleceu aqui em casa, prestando socorro à minha mãe pela situação que nós estávamos passando.

Muitos de vocês jamais saberão o que é lutar, literalmente, pela vida de uma pessoa. Nunca sairão berrando por um médico no meio de uma rua São Paulo movimentada, porque uma pessoa estava tendo uma parada cardíaca no quarto da sua mãe. Alguns de vocês nunca vivenciaram, até hoje, situações que lhes mostrassem o verdadeiro valor de uma vida.

É, talvez eu culpe os pais por isso. E querem saber o motivo do nome de Michael Lourenço estar no título desse texto? Porque pior do que ter um juiz que estipule uma fiança pelo acidente da morte do Kexi, é ter um pai que pague pelos erros do filho.

22 anos, Michael?! Um pai ou uma mãe que é incapaz de deixar o filho pagar pelos seus próprios atos aos vinte e dois anos acabou de assinar o maior atestado de falência existencial como educador de um ser humano que alguém, algum dia, pode assinar. A questão aqui não é se o juiz está certo ou não de estipular algum valor, mas sim de que esse menino não entendeu o próprio erro (assim como provavelmente nunca entendeu um erro sequer na sua vida inteira) não sentiu a dor de ter tirado a vida de uma pessoa. Alguém que eventualmente vai voltar a colocar a vida de outros em risco e, em algum jogo maníaco de sorte ou azar incentivado pelos seus pais, vai acabar se jogando nas ferragens de algum acidente da próxima vez.

Não pensam na educação e na realidade de mundo que mostram aos filhos. Quando pensam, o menino já tem barba no rosto e os aguarda pagar a fiança na delegacia. Já é tarde. Esquecem que já não dá mais pra moldar uma personalidade e que se vire a sociedade pra lidar com mais um dos vários inconsequentes que bebem e dirigem na nossa cidade. Começou aí a queda no abismo pra todo o resto. Mas aí rebobinamos a fita e vemos que, lá atrás, houve um pai omisso e uma mãe omissa, que só começam a educar quando o filho já era caso de polícia.

Não te conhecia, Kexi. Nunca ouvi sua voz, mas sei o valor que uma vida representa. Sei o valor que você tinha por, desde então, chegar na PUC e ver a Isa angustiada pela sua partida. Não preciso te conhecer pra saber que poderia ter sido eu e que, por isso, estou no mesmo barco que você.

Viver na geração da loucura não é fácil, cara. Espero que esteja em paz.

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